quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

MINHA MENTE INQUIETA


"Descobri a pólvora!" Finalmente.
Há mais ou menos uns 25 meses (primeira vez que ouvi falar em TDAH e me identifiquei), estou buscando o que acabei de encontrar: a fonte de minha incessante inquietação.
Acabei de ler o livro MENTES INQUIETAS (Ana Beatriz Barbosa Silva), e lhes digo que, até hoje, ainda não havia me impressionado tanto com leituras sobre este assunto... Na verdade eu achava que já sabia todos os sintomas, como "distração, superfoco, turbilhão de pensamentos, esquecimentos, aqueles "brancos" durante uma conversa ou ação... também já tinha consciência que os anos de convivência com este "transtorno" gerava ansiedade e pânico (como no meu caso)...
Então, qual a novidade??!! Ao ler cada parágrafo deste livro eu tive a impressão de que minha vida toda estava descrita nestas 270 páginas... Tudo está ali: Minha infância, os adjetivos pejorativos que recebia (inclusive na escola, ninguém falava sobre "bullying" há 20 anos...), a minha mania de "imaginar, sonhar acordada, fantasiar, viajar", minhas paixões intensas e obsessivas (geralmente platônicas), minha adolescência, minhas confusões, minha criatividade privilegiada, minhas neuras, meus medos, minhas justificativas, minha falta de organização, meu traço rebelde, minha dificuldade em seguir regras, minhas dependências, minha auto-estima baixa, minha incapacidade de viver sob pressão, meu caos, minha infantilidade, minha impulsividade, minha dificuldade como dona de casa, minha mente sempre trabalhando, minha exaustão... Eu até brinquei com minha irmã Ane (o livro é dela) "Poxa, esta é a minha biografia!"...
Encontrei o que eu queria, mas não estou segura do quanto saber de tudo isto pode ser bom ou ruim... não nestas alturas do campeonato!
Minha filha é TDAH, mas ela tem apenas 8 anos de idade e, apesar de viver em um mundo que não é o nosso (ninguém, além de um TDAH faz ideia do que esse turbilhão nos causa...), eu estou bem aqui, ensinando-lhe a exercitar sua mente, criando imunidade psicológica para quando as críticas chegarem, ensinando-lhe a focar nas suas qualidades, orientando-lhe para que canalize sua criatividade em algo útil, enfim... ela está aprendendo a viver normalmente, sem preconceitos, sem prejuízos psicológicos (que sinceramente, não fossem as pressões externas, as exigências da "maioria", viveríamos descansados com nosso jeitinho nada convencional, mas que com nossa inocência: amamos!)...
E eu? O que faço com estas informações agora?? Admito que algumas questões podem ser trabalhadas, aquelas que prejudicam aqueles que fazem parte do meu convívio, que dependem de mim etc, ou as coisas que me prejudicam... algo do tipo: Não tagarelar tanto, não contar tantos detalhes de uma história que é pra conversa não ficar enfadonha, não colocar a culpa das minhas frustrações nos outros, não ficar muitas horas "no mundo da lua", não interromper quando outra pessoa está falando, pensar antes de agir, tentar ser independente dos outros, tentar direcionar essa "energia" para algo útil, trabalhar minha auto-estima (destruída com os anos), tentar entender que as outras pessoas podem não estar vendo as coisas do mesmo ângulo que eu, tentar me organizar com horários (isto seria o equivalente a transpor montanhas), tentar me livrar da ansiedade e do pânico (consequências do TDAH), parar de ser tão sincera, tentar ficar relaxada, e não me meter em problemas e "roubadas"... Simples.
Mas o que eu faço com minhas distrações? Com essa minha sede de "intensidade"? Com a eterna criança dentro de mim? O que eu faço pra não me apaixonar (crash, boom, bang)? Pra não fantasiar (Eu até me lembrei do filme "Em Busca da Terra do Nunca", agora... Fiquei super encantada com aquelas cenas das fantasias do "Johnny Depp", sendo reveladas aos espectadores do filme, como se a imaginação pudesse mesmo ser mostrada desta forma... E é exatamente isto que me ocorre quando estou "sonhando acordada"... É quase, quase como viver em outra dimensão... É quase, quase palpável...)? Pra não sofrer tanto? Pra não ficar tão eufórica quando alegre? Pra não curtir tudo plenamente? Pra não correr atrás de aventuras? Como eu deixo de ter meus encantos?? Sim, porque... quem eu sou, afinal? Qual é a minha personalidade? Eu sou meiga, feminina, sonhadora, sincera, inteligente, romântica, amiga, solidária...? Ou sou apenas TDAH?... E eu juro, não fossem as pressões externas...
Quase chorei ao ler este trecho do livro (pg 25, 26) "... O que se vê, na maioria absoluta dos TDAs, é que, em suas essências, eles têm um profundo amor à vida. Passam a maior parte de seu tempo buscando emoções, aventuras, projetos, amores, tudo para viver mais intensamente. Arriscaríamos dizer que os TDAs jamais buscam a morte. Podem, sem querer, chegar bem perto dela, mas certamente não era para lá que se dirigiam e sim para a vida. Esta vida que, para eles, de tão interessante, por vezes chega a doer. E é na busca dessa vida dentro da vida que está o impulso mais forte de todo TDA. Para eles tudo é MUITO. Muita dor, muita alegria, muito prazer, muita fé, muito desespero..." (Eu estou aqui)
Amei cada trecho. Amei cada frase. Filmes da minha vida inteira foram assistidos por mim enquanto lia perplexa... Menos E.T. agora! Alguém neste mundo sabe o que vai dentro de mim, como eu funciono! Pronto, eis aqui as minhas razões! Eu sou puro êxtase!! Mas ainda me abalo quando palavras ásperas e debochadas me descrevem por eu ser TDAH (tenho que me acostumar com as pessoas "normais")...
Todos os capítulos são importantes, mas destaco "O QUE É O TDA?", "TDA INFANTIL: VISÃO FAMILIAR E ESCOLAR", "O QUE OS TDAs TÊM QUE OS OUTROS NÃO TÊM?", "POR ONDE O IMPULSO ME LEVAR...", "TDA E A VIDA AFETIVA (Os últimos românticos: emoção em excesso e escassez de razão)" e "MULHERES E TDA", onde lemos, por exemplo (pg 54, 55) "... a mãe e esposa TDA pode ser extremamente lúdica, criativa, divertida, amiga e cheia de pique. Seus filhos sabem que ela é incrível, que sua mamãe é 'demais'. Que não brinca com eles para entretê-los somente, ela está ali brincando mesmo, de corpo e alma nas disputas, e pode sair batendo o pé se perder uma partida de jogo da memória ou Banco Imobiliário.
O marido sabe que nem sempre pode contar com ela na hora e com perfeição, mas também sabe que nunca vai encontrar a mesma mulher todos os dias, que ela é uma companhia divertida para as saídas e aventuras, que seus amigos provavelmente irão gostar muito dela - desta mulher espirituosa. Quando ela não está por perto, o marido sente que o astral já não é o mesmo. Suas frequentes e súbitas mudanças de humor podem desencadear brigas homéricas, mas tambem podem resultar em momentos inesquecíveis de companheirismo, sexo, diversão e muitas, muitas risadas. É como estar em uma montanha-russa amorosa, com altos e baixos, mas onde jamais deixará de sentir aquele friozinho na barriga e o coração acelerado."
...
Bem, ainda não organizei todas as minhas ideias sobre o que li... Durante este "processo" senti medo, alívio, desconforto, alegria, crescimento, impacto, medo (medo eu já disse)... Por um momento a sensação de que finalmente havia encontrado o meu lugar neste mundo, noutro, o desespero por estar condenada a viver pra sempre nesta prisão disfarçada de liberdade... e neste mesmo momento de desespero, uma voz sussurrando no meu ouvido: "Eu criei você assim. Eu tenho um propósito pra você, exatamente com este seu jeitinho. Onde mais Eu encontraria alguém que possa ir aonde ninguém foi? Alguém que 'paga pra ver', que desafia os limites, que se entrega de corpo e alma... que vive no ápice... que sente tudo no extremo... Imagine toda esta energia sendo gasta na Minha causa..." Ok! Nunca mais direi que odeio ser TDAH! Agora que me entendo melhor, vou buscar direcionar este furacão para coisas que valem a pena (que estrago!!!), fazer valer a pena!!!
À Ana B B Silva, escritora do livro, meus sinceros agradecimentos pelo tempo e dedicação com este assunto! Deus abençoe você!! Obrigada por "... escrever sobre este assunto que foi, de certa forma, a maneira que você encontrou de homenagear o ser humano, principalmente no que concerne ao seu talento essencial e potencial criativo, algo que os TDAs têm de sobra. Que segundo você, não importa a proporção ou o alcance que tenham os seus feitos - que mude o rumo da humanidade ou de apenas uma vida -, o que vale é a vontade de realizar algo novo, de abrir novos caminhos. Longe do conceito de doença, a seu ver, o TDA trata-se de um funcionamento mental acelerado, inquieto, que produz incessantemente ideias que, por vezes, se apresentam de forma brilhante ou se amontoam de maneira atrapalhada, quando não encontram um direcionamento correto. Por imaginar a grande multidão de anônimos que, neste momento, encontram-se deslocados em suas vidas, mergulhados em rotinas desgastantes, considerados inadequados ou incompetentes e que, na verdade, carregam em suas mentes tesouros para a humanidade." (pg 12). Você é ótima!!!











Então é isto! Recomendo este livro a todos os TDAs ou aspirantes ao mesmo (aqueles que estão na dúvida, procurem orientação)!! Também recomendo aos parceiros afetivos dos TDAs, aos pais de um, aos professores (e supervisores também, pois muitos constrangimentos seriam poupados caso estes profissionais se interessassem em se informar das limitações de seus alunos.), aos amigos... enfim.

Um grande beijo a todos TDAs!!!
(Ane, obrigada!... Vou comprar um pra mim, com certeza!)

Amor, CAren DiLima