quarta-feira, 23 de julho de 2025

Ressuscita-me

   Prosa poética, publicada há 14 anos, inspirada na experiência de um recomeço que foi um divisor de águas. 

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Ressuscita-me

   O título não chega a ser tão tétrico quanto à condição de se estar morto  e, até onde eu sei, um morto não fala e nem implora para alguém ressuscitá-lo. Mas se não a morte física, no entanto uma morte espiritual. O óbito originado por uma sucessão de doenças, chamadas por alguns de pecados, e injetadas por um inimigo de almas que usa disfarces e estratégias muito bem elaboradas, capazes de enganar qualquer um que, no meio da vigília, apenas pisque os olhos.

   Alguns sentem na pele o frio da morte; outros não têm a menor ideia de que não estão mais a viver  mas todos concordam que as coisas já não são como antes. Todos os dias estão confusos, perdidos, vazios, sem respostas. Caminham para lugar algum, agarram-se à primeira coisa que lhes proporcione segurança e consolo... e mesmo assim não há plenitude em nada disto. Distraem-se com ilusões e fantasias que passam a reinar em suas mentes, seus corações e seus corpos. Todos os dias há fome e sede nunca saciadas. Há desespero e desesperança. Uma fase? Um deserto? A morte? Quem sabe?

   Alguns sentem que estão mortos. Outros não têm a menor ideia. Mas ninguém irá admitir.

   Até que, depois de quatro dias, após removerem uma pedra à sua frente, Alguém o chama pelo nome...

   A atitude de obedecer a voz d'Aquele que tem o poder de ressuscitar os mortos é uma escolha intransferível — e muito séria. Sair para fora pode ser um passo ao desconhecido. Vai lhe custar o lugar confortável em que se encontra e pode significar renúncias de coisas que nunca poderia imaginar abrir mão. Levantar-se e ir em direção à voz que lhe chamou pode ser até constrangedor, levando em conta que há ataduras em volta do seu corpo — e que pode haver uma multidão o observando lá fora. Obedecer nem sempre é fácil. E, na verdade, pode doer profundamente.

   Entre o momento em que seu nome foi chamado com doçura e autoridade, até o momento de sua atitude, enquanto aquele som ainda ressoa pelas paredes da caverna, a memória de promessas e sonhos vai retornando nitidamente... O ar puro, com perfume de vida abundante, invade os pulmões antes paralisados. A pulsação é reativada e o coração começa a bater desesperadamente. A visão ainda está meio embaçada e qualquer palavra parece se tornar impronunciável... E mesmo em meio à dor, ao medo, às incertezas... Uma coisa é inegável: Seu nome foi chamado à vida novamente!

   Apenas alguns minutos  não de rebeldia ou incredulidade, apenas os suficientes para  colocar-se de pé novamente. Com o coração mais quebrado do que nunca, com a dor mais intensa que alguém já sentiu, sair para fora. Sair sem ter certeza se sobreviverá ao dar o próximo passo, apenas obedecendo exatamente à ordem dada. E enquanto se dirige, à passos desequilibrados, ao encontro d'Aquele que declarou a vida novamente (momentos que parecem durar uma eternidade), todo o seu ser se encontrará angustiado e desolado.
   
   Mas saiu ao reencontro de Jesus que o chamou. E assim que foi recebido por Seus braços, o medo foi dando lugar à tranquilidade. Assim que O tocou, a dúvida deu lugar à certeza. No Seu abraço, foram renovadas todas as promessas feitas anteriormente. Assim que os seus olhos O viram, foi compreendido o mal causado — e o arrependimento irrompeu profundamente. Houve perdão.

   Assim que Ele deu-lhe de beber, rios de águas vivas começaram fluir de dentro para fora. Só precisou de confiança n'Ele, e O Amor o cobriu por todos os lados.

   E agora não existe outro lugar para se estar, senão vivo — para adorá-Lo para sempre.

   
   CAren DiLima, 2011

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