MEMÓRIA SE FORMANDO...

Noto o quanto o tempo anda me deixando pra trás...

Pelo amor de Deus, me diga que quando você era criança, e seus pais ou avós contavam aquelas histórias "Aqui onde nós moramos agora, antes era puro mato!", "...Naquele tempo não existia avião (telefone... TV colorida... ou melhor, TV)...", ou a minha preferida "Os Dez Mandamentos foi a maior produção de Hollywood, Charlton Heston arrasou, sem falar nos efeitos especiais!! (...Não, eu... Tudo bem! Os Dez mandamentos mata a pau mesmo... Pra época, aqueles efeitos eram... Sem dúvidas!)", você achava tudo emocionante e interessante no início, mas não ficava com cara de paisagem na quinta vez que eles repetiam, enquanto, por dentro, se perguntava se você seria capaz de sobreviver ao tempo deles, caso tivesse nascido há 100 anos, ou então... Se fazia algum sentido eles nos contarem estas histórias, como se quisessem eternizar os fatos???...

Sabe o que é louco? É que seguida me pego dizendo pra minha filha ou sobrinhos "Onde moramos agora, era uma plantação de arroz, na minha infância!", "A vovó levava meus irmãos e eu pra brincarmos na 'pracinha da Bonanza' (um lugar inacessível para carros, cheio de 'matinho' e natureza!), onde agora tem um Supermercado Carrefour, um prédio do Curso Senac, um salão de festas infantis daqueles bem equipados, casas luxuosíssimas e, já ia esquecendo, o Shopping da minha cidade, com suas 11 salas Cinemark etc...", "No meu tempo não existia cd, dvd, mp3, mp4, computador, telas LCD, 3D, celular, internet, micro-ondas, máquina de lavar roupas, cartão de crédito (não nessa ordem necessariamente, mas tanto faz, não existia nada disto em ordem alguma!)...", "Pra mim, o melhor filme que existe é Titanic! Eu assisti no cinema, e quase morri chorando quando o Jack (Léo DiCaprio) morreu no final (Sempre choro)..."

A novidade é que encontrei uma série de 4 DVDs, com 4 estórias de O Pequeno Príncipe cada um, nas Lojas Americanas, por R$ 4,99 cada... Quando eu e meu marido vimos (num balaio, claro!), quase tivemos um surto de emoção!!! Mostramos pra Carolyn, que tinha nas mãos alguns desenhos, digamos, mais atuais... "Filha, todas as crianças deveriam assistir O Pequeno Príncipe!!!" Ela fez uma expressão meio de "Tão brincando, né?!" (Tudo bem, da última vez que tentamos mostrar a cultura cinematográfica da nossa infância, ela quase morreu de rir assistindo Jaspion, que pra nós era como o Iron Man de agora...), mas o fato é que ela topou, depois de mil frases em tom infantilizado, como "Tu vai achar tão fofo! As aventuras dele eram tão lindas!...", acompanhadas daquele olhar do "Gato de Botas, em Shrek (Toda mãe deveria saber fazer aquele olhar!)..."

Então, levamos O Pequeno Príncipe pra casa...

Antes de iniciar aquele episódio, quando a semente da Rosa é levada pelo vento ao pequeno planetinha B-612, e o Pequeno Príncipe planta a semente... Quando ele aprende a pegar cometas com o seu amigo, o pássaro Swifty, quando faz sua primeira viagem à Terra, quando ele precisa colocar uma redoma de vidro, pra Rosa não sentir frio... Eu ia relembrando e contando pra Carolyn, antes das cenas irem aparecendo...

Foi muito bom... Bom pra ela e bom pra mim!

O Pequeno Príncipe me aproximou, de um jeito meio impopular, de um momento da minha infância que, maravilhosamente, pude compartilhar com minha própria filha... E nos colocou no mesmo nível de satisfação, fantasia, pureza e encantamento...

Se alguém tivesse me dito há uns 22 anos, enquanto eu assistia O Pequeno Príncipe, que este momento seria possível...

Só sei que estórias antigas podem parecer um tanto enfadonhas de vez em quando (tanto quanto a própria palavra "enfadonha"), mas sinto que elas enriquecem de certa forma, revelam os nossos valores, as nossas raízes, os nossos costumes, as nossas crenças... Na maioria das vezes, nossas estórias, ou histórias, podem ser muito bem-vindas!

O Pequeno Príncipe

é uma herança das minhas boas memórias. Memórias que vão sendo arquivadas de forma assombrosa, com o passar dos anos... Assombrosa pela forma em que vão sendo selecionadas conforme a emoção que me proporcionou... Então, de vez em quando, abro um destes "arquivos", como o da ( fecho os olhos, respiro fundo e ameaço um sorriso pra procurar a expressão certa...) "inocência e beleza da infância", e guardo mais um destes momentos, embora minha infância tenha ficado pra trás há tanto tempo... Não sei com certeza, quanto tempo...

Mas embora me perca um pouco entre tantos arquivos,

fico feliz em poder vivenciar o espetacular milagre da memória se formando...

Neste vídeo, Amy diz "A memória é algo poderoso... Talvez, por esta causa, o ladrão, ao lado de Jesus na cruz, disse 'Lembre-se de mim quando entrares em Teu Reino...' e quem sabe, por esta causa, Jesus disse 'Façam isto em memória de mim...'."

Tradução da canção

"If These Walls Could Speak /

Se Estas Paredes Pudessem Falar"

http://letras.terra.com.br/amy-grant/168135/traducao.html

...

Existem, em nossa jornada até aqui, centenas de boas recordações em nossos "arquivos"... Devem existir... E a memória, por mais cruel que às vezes nos pareça, não é algo que possuímos por acaso... Pense no quanto ela é poderosa e assombrosa... No quanto ela é útil para formar o nosso caráter, para construir as nossas defesas... Eu sei que, a nossa natureza nos incapacita de nos livrar das memórias ruins, das lembranças que nos ferem, nos afrontam, nos consomem... Porém, elas estão ali para nos fortalecer também... Para nos ensinar a amar, a perdoar, a depender, a nos humanizar, a não julgar, a não repetir os erros... Por outro lado, as boas lembranças nos alegram, nos dão coragem, nos abraçam, nos revigoram e nos carregam no colo!

Que possamos aprender a administrar os nossos "arquivos", nos libertando do peso de alguns, e principalmente, eternizando os bons!

"Disto me recordarei em meu coração,

por isso tenho esperança."

(Lamentações 3.21 RC)

Deus abençoe a todos nós!

CAren DiLima...